Responsáveis por investigação de envio de dólares têm nomes ligados a contas na Suíça.
Os procuradores da República, Gino Liccione e Marylucy Santiago Barra, responsáveis pela investigação do envio irregular de dólares para a Suíça por fiscais da Fazenda estadual e da Receita Federal, se viram diante de uma situação inusitada: descobriram que um dos acusados no caso pode ter forjado documentos relativos a abertura de contas no exterior. Os titulares das contas seriam os próprios procuradores, Gino e Marylucy.
Ontem eles determinaram perícia em documentos apreendidos no escritório do advogado José Carlos Tórtima, que defendeu um dos condenados, o auditor fiscal Sérgio Jacome de Lucena.
Na terça-feira, o advogado telefonou para a procuradora Marylucy informando que tinha formulários de contas bancárias abertas na Suíça, em nome dos procuradores.
O banco seria o mesmo que detinha as contas dos fiscais: o Discount Bank and Trust. Além disso, os procuradores teriam colocado os nomes de seus pais como procuradores de suas contas – aí começa o problema.
No caso de Gino Liccione, os pais dele já estavam mortos quando a conta foi aberta, em 1997. Ou seja, não poderiam constar do documento. O nome da mãe aparece escrito errado. Quanto à procuradora Marylucy, os nomes dos seus pais estão corretos, mas mesmo preenchido em inglês, o documento traz o nome ”Brasil” grafado em português, e não ”Brazil”, como seria.
– Nunca tive conta em lugar algum. Assim que tomamos conhecimento dos documentos pedi a perícia e vamos demonstrar as inverdades desse formulário – afirmou a procuradora Marylucy Barra.
– Vejo como uma tentativa desesperada de tentar arrumar um argumento para ser levado ao tribunal. Assim, eles poderiam alegar que isso aconteceu com os clientes deles – comentou Liccione.
O juiz Lafredo Lisboa, da 3ª Vara Federal se disse ”surpreso com a documentação e acredita em uma fraude contra os procuradores”.
– Nunca vi uma audácia tão grande. São documentações falsificadas. É preciso esclarecer como essas pessoas obtiveram o formulário do banco suíço e os dados pessoais dos procuradores – disse Lisboa.
O advogado José Carlos Tórtima divulgou uma nota oficial ”relatando que recebeu a documentação num envelope sem remetente”.
– Analisando o conteúdo dos documentos, verificou o advogado (…) a grosseira farsa, consistente em tentar atribuir aos dois a condição de correntistas na mesma instituição apontada na denúncia contra os fiscais e auditores – informou a nota.
Os procuradores vão solicitar ao procurador-geral da República, Cláudio Fonteles que envie um ofício à Suíça para saber se existem realmente as contas no Discount Bank.