Tem sido cada vez mais difícil aos advogados serem recebidos pelos juízes e desembargadores. Isso é uma postura de extrema arrogância. Pior ainda são aqueles que recebem e enquanto são destacados aspectos relevantes – ao menos para o advogado – fazem “cara de paisagem”.
Outros, revelando temor de um eventual assédio, chamam um funcionário para acompanharem o encontro.
Não faz muito, quando retornei à advocacia, necessitava conversar com uma magistrada, pois estava diante da necessidade de uma medida de urgência. Liguei para a diretora de secretaria, expus a necessidade e recebi a resposta: “A doutora não recebe advogados”.
Diante da surpresa, pois tratava-se de uma magistrada nova – tanto na idade, como na carreira – ironizei: “Ela que está certa, o errado fui eu que durante 22 anos jamais deixei de receber advogados, peritos, servidores e, inclusive, partes.
Fiquei sem falar com a excelentíssima que, com certeza desconhecia a natureza pública da sua atividade.
Em boas épocas passadas havia mais respeito entre os chamados operadores do direito ou, talvez, mais segurança para a interação.
Lá pelo final da década de 90, uma bela e elegante magistrada negou-se a receber um advogado. Ele baseado no dispositivo legal que não permite barreiras ou cancelas para os advogados, ingressou no gabinete da magistrada, sentou e avisou: “Só saio daqui quando a senhora falar comigo”.
Ela levantou-se da sua mesa e saiu do gabinete quase correndo. Foi procurar o seu colega que presidia a Amatra-4, um juiz muito ponderado que, para não confrontar, sempre interpretava estranhamente os fatos.
Ao encontrar o representante da advocacia para auxiliá-lo na solução do impasse noticiou: “Doutor, as colegas usam minissaia e aí os advogados não querem sair dos seus gabinetes”.
O reducionismo aplicado ao problema foi exagerado, embora tenha servido para aplacar os ânimos. Entretanto, o atual afastamento social e a realização dos atos judiciais à distância, têm servido para consolidar a inaceitável ideia de uma atividade jurisdicional encastelada e distante, inclusive dos advogados, ou seja, das partes.
A minissaia saiu de moda. Mas a torre de marfim onde alguns magistrados se escondem, ainda não…
Autor: Roberto Siegmann – Advogado em Sala de Audiências
FONTE: ESPACOVITAL.COM.BR
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